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Estudo do Inconsciente

 Inconsciente: Perspectivas Filosóficas e Psicanalíticas O estudo do inconsciente tem sido uma das áreas mais fascinantes e complexas da filosofia e da psicologia. Desde os tempos antigos, filósofos têm contemplado a natureza oculta da mente humana, enquanto a psicanálise, especialmente através dos trabalhos de Sigmund Freud e outros psicanalistas contemporâneos, tem lançado luz sobre as camadas profundas da psique humana.  Este breve texto visa explorar essas perspectivas, desde os fundamentos filosóficos até as contribuições contemporâneas da psicanálise, incluindo importantes figuras brasileiras nesse campo. Filosofia e o Inconsciente A investigação filosófica sobre o inconsciente remonta aos tempos antigos, com Platão sugerindo a existência de uma alma dividida em camadas, algumas das quais permanecem inacessíveis à consciência. Aristóteles, por sua vez, discutiu o papel dos sonhos como reveladores de desejos e preocupações ocultas.  No entanto, foi com a ascensão da psicanálise qu

Psicologia Social e o tema do Racismo

Abaixo, uma análise e comparação entre dois artigos científicos que abordam temas em psicologia social. O primeiro é “Modos de subjetivação de mulheres negras: efeitos da discriminação racial” e o segundo é “Cultura e ideologia: a mídia revelando estereótipos raciais de gênero”. 

A ideia é promover uma discussão sobre racismo e preconceito abordando recortes dos conceitos de gênero e de raça na sociedade brasileira. Para efeito de análise, o primeiro artigo citado será denominado “artigo 1” e o segundo será “artigo 2” ao decorrer do trabalho.

Ambos os artigos começam com uma breve discussão acerca do tema. O racismo, segundo os textos, acontece por uma série de fatores, entre eles a normalização e naturalização do pensamento racista no processo da cultura.

“O racismo produz discursos que procuram normalizar as diferenças entre os sujeitos, atribuindo-lhes a responsabilidade pelas desigualdades sofridas. Dessa maneira, são veiculadas normas e prescrições para a população negra, que funcionam como máquinas de agenciamento de identidades e subjetividades homogêneas, passivas e assujeitadas”. (OLIVEIRA et al, 2009, p. 267).

No trecho acima (artigo 1), vemos um dos efeitos do racismo, no qual ele produz discursos ideológicos para criar características, muitas vezes falaciosas, às pessoas negras, na intenção de separá-las das outras pessoas.

A reflexão a respeito de palavras comumente usadas em nosso cotidiano que designam à cor preta aspecto ou caráter depreciativo, como por exemplo: denegrir, ovelha negra, lista negra, mercado negro, câmbio negro, peste negra, magia negra, humor negro, lado negro... 

Negro foi uma palavra criada no tempo da escravidão para promover o comércio de escravos. Após o fim da escravidão o termo foi abolido em todo mundo. Contudo, no Brasil os termos ainda são usados em larga escala em meios de comunicação de massa, como jornais, novelas, livros, etc. 

Acreditamos que tal fato deva-se à uma  elite dominante branca, que mesmo após a abolição da escravidão (lembramos que o Brasil é um dos últimos países a assinar o tratado), manteve na linguagem tais termos com interesse velado de manter o status quo de uma sociedade preconceituosa e racista. Ou seja, é possível já relacionar esta reflexão com o artigo 2, quando temos:

“Uma relação de dominação pode ser estabelecida de diversos modos. Podemos falar de relações de dominação de gênero, relações de dominação de classe, de raça, etc. Elas também podem ser o somatório de todos esses tipos de relações de dominação. Um tipo não é mais grave do que o outro, pois, no fim das contas, o resultado de qualquer um é o agravamento do processo de exclusão, ou seja, são extraídas das pessoas seus direitos à cidadania simplesmente por pertencerem a determinada classe social, por serem de determinada raça, ou representarem um gênero específico”. (GUARESCHI et al, 2002, p. 76-77).

O trecho acima, do artigo 2, explicita o conceito de relação de dominação, visto em sala. Este trecho entra em consonância com o artigo 1, que explicita um fenômeno que ocorre no racismo, que é uma relação de dominação. 

Os termos maioria/minoria podem empregar dois significados. Popularmente são associados numericamente e estatisticamente, indicando uma variação demográfica dentro de uma população. Sendo que a minoria, neste conceito, pode ser compreendida como a elite, que exerce poder sobre uma maioria, que seriam os pobres.

Porém, nas ciências sociais, esses termos são usados para designar as relações de poder social entre grupos dominantes e subordinados. No texto é utilizado este segundo significado, em que as minorias são uma parcela da sociedade, que possuem traços culturais ou físicos específicos que são desvalorizados e não inseridos na cultura da maioria, esta por sua vez, desempenha um controle dos recursos econômicos, status e poder, perante as minorias, e consequentemente gera sua exclusão e discriminação. 

Logo, o processo de exclusão é instituído num movimento dentro das mais variadas situações sociais e contextos culturais, historicamente construídos e mediados pelos instrumentos de comunicação, que conseguem estabelecer a compreensão de nossa cultura. Neste sentido, o processo de exclusão amplia o seu espaço e alimente a sua força. 

Elencamos a seguir a pesquisa citada no artigo 1, realizada com um grupo de mulheres negras, discutindo os efeitos da discriminação com este grupo, fazendo um recorte racial e de gênero.

No entanto, é preciso evitar a vitimização das mulheres negras, desconsiderando as diferentes formas de resistência empreendidas pela população negra e pelas mulheres, de maneira peculiar. Ao trabalhar com a violência racial, é importante incluir como contraponto as potencialidades e as resistências que as mulheres negras vêm construindo ao longo do tempo.. É nesse contexto que se insere esse estudo, que busca compreender os efeitos da discriminação racial nas identidades e subjetividades de mulheres negras que sofrem violência racial, bem como as estratégias de resistência criadas por essas mulheres para o enfrentamento às violências. (OLIVEIRA et al, 2009, p. 268).

O estudo ressalta a importância de considerar as conquistas alcançadas por estas mulheres e respeitar sua história de luta e reivindicação, para que as mesmas não sejam vitimizadas, pois isso apagaria sua resistência ao longo dos anos em uma sociedade extremamente racista. A resistência é citada aqui, principalmente porque, para transformar ativamente a sociedade e mudar valores preconceituosos enraizados, as minorias encontram muita oposição, como visto neste trecho do artigo 2:

Desse modo, quando um grupo minoritário deseja introduzir um elemento novo, perturbador, em um grupo, ele carece de poder e, às vezes, da competência necessária para impor seu ponto de vista a uma população de maior importância. Quando tentam, são depreciados, postos ao ridículo (Doms e Moscovici, 1991). [...] Isto pode gerar uma relação de opressão onde, a partir do olhar da maioria, o “outro” (minoria) se apresenta com uma conotação negativa, e a “maioria”, uma positiva. As pessoas não podem ser como querem; têm que ser como a maioria [...] ou serão consideradas desviantes, inadaptadas ou marginais. Nessa relação de opressão, os estereótipos surgem e se cristalizam. (GUARESCHI et al, 2002, p. 78).

Desta forma, o artigo 1 apresenta a pesquisa realizada, junto ao programa SOS Racismo, realizado pela organização de mulheres negras Maria Mulher, em Porto Alegre. Por meio de denúncia dos crimes de violência racial, o estudo buscou discutir as políticas públicas a fim de promover transformações na relações étnico/raciais na sociedade, garantindo assim o exercício pleno de sua cidadania. O programa oferece ajuda jurídica para casos de discriminação, e também ajuda psicossocial para tratar do sofrimento psicológico das mulheres frente ao racismo.

É importante frisar os conceitos de identidade e subjetivação sob a perspectiva dos Estudos Culturais, que compreende identidades como construções culturais constituídas simbolicamente, e que a questão de que o artigo 1 trata, discutindo a situação das mulheres negras frente ao racismo, o conceito de “raça” infere uma certa subjetividade de inferioridade neste público e ao mesmo tempo evidência a discrepância social entre brancos e negros. 

Um exemplo que nos remeteu durante a elaboração da análise acima foi o "teste da boneca", quando a maior parte das crianças pretas preferem brincar e até acham mais bonita a boneca branca. Curiosamente algumas crianças até se afirmam como brancas em uma desfigurada percepção de si mesma.

Afinal, como elencado no artigo 2, é preciso pensar a crítica à indústria cultural e os meios de comunicação de massa, que operam uma ideologia dominante e reforçam o conceito estereotipado da sociedade. Ou seja, a luta de reconhecimento da minoria e de suas necessidades como sujeitos esbarra no poder de influência dos meios de comunicação.

Consideramos por fim, que também é papel dos psicólogos sociais ter um olhar crítico e questionar as formas simbólicas e a linguagem a fim de evitar a simples reprodução de conteúdos que expressem uma homogeneização do sujeito, pertença ele a qualquer classe social, gênero ou etnia. 


Referências Bibliográficas


OLIVEIRA, M. L. P., Meneghel, S. N. e Bernardes, J. S. “Modos de subjetivação de mulheres negras: efeitos da discriminação racial”. Psicologia & Sociedade; 21 (2): 266-274, 2009.

ROSO, A.; STREY, M.N.; GUARESCHI, P.; e BUENO, S.M.N. “Cultura e ideologia: a mídia revelando estereótipos raciais de gênero”. Psicologia & Sociedade; 14 (2): 74-94; jul./dez.2002.

Meios eletrônicos

Teste das bonecas. Acesso em 19 de nov. de 2019. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=CdoqqmNB9JE


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