Maria Homem
Como vamos desenhar este contorno. Terceira instância, o ideal de Eu (uma imagem para o Ego) a partir da projeção de um Eu ideal. Identificação como norte, dando um enquadre do SuperEu. Ele dá moldura, é o frame, mas é prisão. (pode ser prisão). Os imperativos do SuperEu - está feio, vai ter pânico, vai ter crise.
É o medo do medo. O medo de vir a estar que atualiza o sintoma. Função superegóica. Como introjetamos as instâncias transcendentais. Um controle entre o Eu da realidade o Eu ideal. E necessariamente vai ter uma lacuna.
Tudo bem viver desse jeito? Tem essa ideia de Eu como função básica de te ajudar a viver. Dá pra dar conta ou está muito difícil. Sempre subjugado pelo peso gigantesco. Estas bagagens. Onipotente, violenta. Qual a relação do Eu com as instâncias superegóicas e as instâncias do Id. Como iremos fazer para viver dentro disto. O Eu ideal vai fazer relação com propostas de modelos identificatórios. O que é cultura. É nossa relação com - tem um aqui, tem um acolá.
Função paterna
O narcisismo ele já dialoga pela via do Eu ideal e pelos ideais de Eu, o Super Eu e o complexo edípico. A função de corte, a função parte. Nome e não. (noms-du-pére).
Como faz para saber, um aspirante a humano, saber quem ele é. Ou ao menos saber que ele é uma parte. Uma parte de subjetividade dentro de muitas outras subjetividades. Distinguir suas ideias, seus desejos da vontade do outro de te manipular, te explicar como é o mundo.
A ideia da subjetividade e da relação com o outro, a gente está falando de amizades, de lugares sociais. Qualquer relação carrega toda a história do mundo. Todas as histórias destes pólos condensadores de narrativas, de energia, de libido, de identificações - interlocução. Por que é difícil? Porque as vezes em alguma medida vê embaralhado. Estado confusional. Indistinção, uma mistura não muito harmônica.
Estágio do espelho
O reflexo na imagem. Quando nos vemos, não distinguimos o que é imagem e o que é realidade. Você vê a figura no espelho, imaginário, objetos reais são indistintos. Primeiro ele fará uma pergunta ao outro. Procura atrás do espelho. Após perceber a imagem, o olhar. Chega a hora de você segurar o seu peso, tem a liberdade para onde olhar, pesquisa as imagens do mundo. Terceira fase do espelho. Deixa eu vir pra cá, vai também, etc, etc.
Encantamento de se descobrir, de se ver de fora. Estamos alienados no próprio corpo. O corpo é a prisão da subjetividade. O físico, meu olho não sai de mim para quem eu me veja na mesma totalidade. Eu desenho, eu tenho uma profundidade de campo. Eu só vejo através do seu olho, você devolve pra mim o que sou eu, o espelho devolve. Sou escravo do olhar do outro para ver como uma totalidade imaginária. O desenho do self é sempre escravo do outro que me diga quem sou eu. A clínica é auto relacional.
Narcisismo
Conceito de Eu. Um é fruto da formação desta instância subjetiva. Este processo é sempre incompleto. Nem sempre é possível fazer o contorno do Eu. (semi impermeável). Ouvir, pegar coisas do outro. Aprender, estudar. O que é estudar? Sair do dogmático, sair de uma posição religiosa. Uma relação com o outro como se o outro tivesse a verdade dogmática para eu seguir. Submissão ao outro, vou incorporando isso em excesso. Estou neste lugar e coloco o outro aqui. (posição submissa. O outro é o mestre). Lógica de poder no patriarca. No mais velho que veio antes de vim. Aquele que sabe e pode.
Adulto
Saber que os humanos não eram super humanos, eram apenas adultos. Não eram super heróis, apenas humanos, adultos. Crescer é se juntar ao grupo dos adultos. Sem lógica de opressão e submissão, sair desta posição submetida ao patriarca. Justiça, igualdade, paridade, equiparação. Lugares estruturais semelhantes, diversidade, lugares de fala singulares. Um pacto justo. Nem se oprime, nem se explore.
Faz um outro desejo de relação humana, daqui pra cá. Gira um botão, etc. e dá certo. Isso é um desenho, a o menos. A quem tem quem não tem, quem pode, quem não pode.
Demasiadamente humana
Amizades, grupos, mais efémeros, mais institucionalizados, etc. Dificuldade de migrar para esta posição, todos equiparados em termos de valoração.
Estado inicial de uma não potência projeção da potência no outro. Às vezes isso dói, isso me angustia. Eu não consigo estar no nome. A gente sente o outro como muita opressão e agente muito subjugado. Inverter a posição.
Como deve ser essa migração imaginária? Só pela inversão dessa relação, muito angustiante, muito desconfortável, por algum momento da vida não pude. Estado de rapport com outro. Tive que inventar que eu sou o centro do mundo, e o outro nem vale, nem importa.
Transtorno de personalidade narcisista.
Instância egóica. Um sujeito separado do outro, uma alteridade. Primeiro estádio.
Atuação narcisista da psique: não conseguir fazer essa relação com o outro, dessa maneira, de uma equilibração de dois sujeitos, se coloca um lugar só para ser sujeito e um outro como extermínio, eliminação, (...) uma perversão, próximo daquele que não considera o outro como uma subjetividade dignidade e da qual eu tenho que fazer elos, de amor, de negocio, de trabalho, de usufruto mútuo. Não, é gozo puro. É uma destituição do outro, uma dignidade subjetiva. É por maldade? (...) Qual princípio ético da psicanálise? Não é fazer um usufruto generalizado de bens e coisas para o seu bel prazer. (Narcisismo secundário).
Borda: Maior ou menor, onde me perco. Como existe o outro.
Masculino. Patriarca. Objeto do olhar da mãe. Necessidade de existir do grande outro.
Liberdade é poder se reinventar.
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Lendo Da tragédia e da beleza, de Rubem Alves (2011, p. 62), que diz que "toda pérola esconde uma dor no fundo da sua beleza. Ostra feliz não faz pérola. Ostra que faz uma pérola é ostra que sofre. Porque a pérola, lisa esfera sem arestas, a ostra produz para deixar de sofrer, para se livrar da dor (...)".
Fichamento:
A perda do objeto considera inevitavelmente no voltarmos ao conceito de introjeção. Segundo Laplanche (p.248), "O sujeito faz passar, de um modo fantasístico, de 'fora' para 'dentro', objetos e qualidades inerentes a esses objetos." O termo psicanalítico foi introduzido por Ferenczi (1909) e prossegue, "enquanto o paranóico expulsa do seu ego as tendências que se tornaram desagradáveis, o neurótico procura a solução fazendo entrar no seu ego a maior parte possível do mundo exterior, fazendo dele objeto de fantasias inconscientes."
Freud (1915) irá abordar a introjeção contrapondo-a a noção de projeção. Assim, "'ego-prazer purificado' constitui-se por uma introjeção de tudo o que é fonte de prazer e por uma projeção para fora de tudo o que é ocasião de desprazer".(Laplanche, p.248)
Muitas vezes com o conceito de 'identificação' sob o ponto de vista econômico, a 'introjeção' dá-se em recuperar os investimentos num objeto doravante perdido - o Ego se torna o que ele não pode ser, ou num objeto ideal inacessível - o Ego tem por ideal torna-se o que ele ainda não pode ser." (Texto aula 2 -p. 220)
"Não acredito mais na minha neurótica." (Freud, Cartas para Fliess, p.265)
Laplanche ( p. 26) define angústia ante um perigo real. "Ameaça pulsional geradora de angústia"?
"Todo mundo é alienado um pouco na alteridade". O desejo do outro (Maria Homem)
Cada um vai descobrir o seu brincar de adulto ou de criança. Picasso, vai fazendo, é infinito, pesquisa das formas, Tarsila, vai desenhando vai se conectando, ou o engenheiro que vai colocando peças e fazendo encaixes.
Alienação
Falso self
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A risada do braço. O sangue saindo pela boca do braço. Quantas vezes eu já me cortei? E a voz da mãe no lado avesso da porta. Laura. Rasgo mais uma boca. Meu sangue garoa junto com a voz no piso do quarto. Laura. Minha mãe sempre foi assim. Ela sempre sabe o que estou fazendo. Começo a escrever este livro enquanto minha mãe tenta arrombar a porta com suas unhas de velha. Porque é realidade demais para a realidade. Eu preciso de uma chance. Eu quero uma chance. Ela também. Quando digito a primeira palavra o sangue ainda mancha os dentes da boca do meu braço. Das bocas todas do meu braço. Depois da primeira palavra não me corto mais. Eu agora sou ficção. Como ficção eu posso existir. (Eliane Brum (Apud Falcão, 2021, p. 66, Appris: Curitiba).
Estudos em jovens em confinamento apontam que, para além de uma patologia, os "atos de automutilação também são vistos, às vezes como simulação e tentativa de chamar a atenção ou manipular os profissionais que as atendem". (FALCÃO, 2021, p. 71). Não há dados quantitativos acerca de casos em presídios no Brasil. No entanto, dentro de presídios, "alívio do sofrimento psíquico, raiva de si ou de outros, (...) e afirmação da individualidade num ambiente coletivo, entre outros." (Idem, p. 81).
Alguns teóricos relacionam a automutilação à linguagem, sendo aquela o resultado de "alguma dificuldade na relação do sujeito com o Outro primordial, ainda em estágio inicial."
O toque carinhoso de um adulto amável 'dá vida à pele', dando à criança pequena a sensação de que seu corpo é parte dela, parte da vida emocional, é amado e valorizado. (...) Deste modo, aprende-se a usar a linguagem para comunicar sentimentos e necessidades. (CONTERIO; LADER, 1998. P75 apud FALCÃO, 2021, p. 92-93).
Falha do ambiente - Winnicott
"Algumas pessoas que se cortam relatam que se sentem despedaçadas ou desconectadas de si mesmas. A interferência na pele ajudaria a dar um senso de unidade do corpo, integrando pedaços desconexos." (Falcão, 2021, p. 93).
(Buscar estágio pré verbal - S. fazendo graça para a mãe dar risada?)
Corpo como memória
Cheiro, gosto, som, tato e imagem tem o poder de evocar memórias vividas de forma instantânea.
Ver Projeto (Freud) seção 6 - "dor" e seção 12 - "A experiência da dor"
Assim, "é possível relacionar o desamparo descrito por Freud e as agonias descritas por Winnicott com o que alguns automutiladores relatam se tomarmos os cortes como uma expressão física, concreta, de um mal-estar, que não consegue ser elaborado em palavras."
Freud ao pensar nas neuroses de guerra percebia que aqueles com marcas, como uma cicatriz ou lesão, eram menos vulneráveis às más lembranças.
Bloco mágico, em Freud, 1925 [1924].
[...] uma prancha de escrever, da qual as notas podem ser apagadas mediante um fácil movimento de mão. Contudo, se examinada mais de perto, descobre-se que sua construção hipotética de nosso aparelho perceptual e que, de fato, pode fornecer tanto uma superfície receptiva sempre pronta, como traços permanentes das notas feitas sobre ela". (Freud, 1925, p. 287)
Segunda tópica freudiana do aparelho psíquico, com Id, Eu e SuperEu.
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